quarta-feira, 13 de abril de 2016

Exprimir sentimentos

[Adenda ao post anterior]

Que fique claro que sou a favor da expressão de opiniões! Aliás, irrita-me bastante esta coisa de parecer que não temos voz e depois pelas costas uns dos outros... ui, ui...

Muitas vezes somos dominados pelo medo da reacção do outro. O medo consome, destrói se a nossa opinião for assertiva só traz benefícios promovendo o diálogo e a partilha de ideias e fazendo com se evolua.

Fica a frase do Pápa Francisco: "Não murmuremos dos outros pelas costas, mas digamos-lhes abertamente o que pensamos."


Sinitralidade rodoviária em Portugal Continental

"A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária apresentou os valores provisórios da sinistralidade rodoviária em Portugal Continental. Durante o ano de 2014, ocorreram, em média, uma vítima mortal e seis feridos graves por DIA... "

Opiniões todos temos e todos temos o direito a "opiniar", devíamos também ter o dever de ter pensamento crítico quando opinamos. Só que a maioria das vezes somos completamente ilógicos e irracionais, gerimos a informação muito mal, extremamos posições, fazemos generalizações abusivas, quando nenhuma posição é extrema, é sempre, sempre equilibrada, ou deveria ser. Temos o dever cívico de ter um pensamento crítico e transmitir isso aos nossos filhos.

UMA PESSOA MORREU POR DIA EM 2014 VÍTIMA DE ACIDENTES RODOVIÁRIOS E 6 FICARAM GRAVEMENTE FERIDAS!

Qualquer pessoa que conduz em algum momento colocou a sua vida em perigo e os demais ao ter um comportamento de risco, ao não cumprir com o código da estrada. Cada vez que conduzimos devíamos ter em consideração a assimetria de poder que possuímos, temos um poder destrutivo enorme, perante quem está mais vulnerável, no entanto as minhas amigas espantam-se e ficam até envergonhadas quando barafusto com um condutor por ele não parar numa passadeira, por ir em excesso de velocidade, etc. E aqui está a irracioanalidade, quem anda de carro, consciente que deveria estar do poder que tem, deveria respeitar os mais vulneráveis e ter essa responsabilidade muito presente, tal como o risco que corre ao fazê-lo, porque em 2014 uma pessoa morreu por dia em acidentes rodoviários, uma pessoa! Por isso não me lixem, quando me criticam pelo o meu filho de 6 anos andar de bicicleta na estrada. Será que o estou a colocar mais em risco do que se colocar no carro? Lá está, nada é preto ou branco, mau ou bom, a favor ou contra... É preciso é termos abertura, visão para vermos os dois pratos da balança antes de tomar posições extremas.

Para aqueles que me conhecem à mais tempo sabem que já fui uma pessoa de tomar posições extremas, hoje em dia trabalho para ser uma pessoa muito mais equilibrada e ponderada e acreditem só muito mais feliz agora, a vida é muito mais doce assim, uma vida em que me permito mudar de opinião, descobrir novas coisa, aceitar as minhas imperfeições e as dos outros. Em suma: vá lá, malta antes de apontarem o dedo, pensem um bocadinho...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Diferenças de género


Considero-me uma pessoa que defende a igualdade de género, acredito verdadeiramente que as pessoas devem ser livres de escolher, de decidir aquilo que desejam independentemente de serem mulheres ou homens. Luto mesmo por isto! Por isso, quando me vêem com a aquela história, do "mãe é mãe", do "mãe é só uma", fico sempre com um bocadinho de comichão, porque o mesmo se pode aplicar ao pai.

Mas, é um facto: só nós mulheres ficamos grávidas, só nos os sentimos na nosso útero e somos nós que os trazemos a esta vida. E talvez só nós mulheres fiquemos com o coração verdadeiramente apertado, quando eles não são convidados para um aniversário de um coleguinha, ou quando são os últimos a chegar numa corrida, ou quando choram por ficar na escola, etc.

Posto isto, porque raio nós mães não somos mais unidas, mais solidárias umas com as outras?

Os dias em que os miúdos têm natação são uma loucura, eu pareço uma louca sempre descabelada, a correr com coisas a saltar dos sacos, o Henrique pendurado em mim, enquanto os dispo, visto e lhes dou ordens para se despacharem que a aula já começou. Quando a aula acaba, são os duches, o vestir, secar o cabelo, enfim um caos. Ora, nesta confusão os miúdos por várias vezes deram banho, literalmente banho, a outras mães, avós e quem esteja por perto, porque deixam escapar o sacana do chuveiro e banho a toda a gente, inclusive a mim... E pronto, está o caldo entornado, mães que olham para mim como se eu tivesse acabado de lhes roubar algo ou pior, mães que dizem entre dentes "Não metem mão nos filhos e depois é isto", avós que ficam indignadas pois tinham ido ao cabeleireiro precisamente naquele dia. Ou seja, não se pode dizer que tenha um clube de fãs e nem o facto de ter três filhos lindos, sendo um deles um bebé que se ri para toda gente e o mais fofo que existe me safa... Por isso os dias de natação tornaram-se ainda mais difíceis.

Com as férias do Natal tivemos uma pausa forçada de cerca de três semanas, nestas semanas imaginei as outras mães, felizes e aliviadas porque nós não estávamos, imaginei que naqueles balneários reinava a paz, o silêncio e os risos alegres... E essas mães com uma ausência tão grande certamente estariam a especular que nós não regressaríamos. Eu confesso, que pensei infinitamente nesta possibilidade, seria muito mais fácil para mim mas, depois coloquei-me no outro lado e consegui perceber que a frequência com que os tais banhos estavam a acontecer não era aceitável... Então, decidi que os meus filhos estavam proibidos de tocar no "sacana" do chuveiro e que o meu único objectivo seria que passassem apenas o corpo por água e já estava o banho tomado e mais importante que isso, eu iria encarar as minhas inimigas de frente...

O que fiz foi do fundo da minha alma e com todo o sentimento, desejei bom ano aquelas mães. Nesse instante, senti que estávamos ligadas que ambas tínhamos cedido e percebido que afinal somos só mães e que muitas vezes estamos cansadas, exaustas e que, se pelo menos nos sentirmos compreendidas e apoiadas somos capazes de tudo!








segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Depende da perspectiva

Ainda estou a tentar perceber qual a minha relação com a chuva, por norma resisto e utilizo o comboio em vez da bicicleta. Mas, da última vez que fiz isso, arrependi-me, senti falta de começar os primeiros 30 minutos ao ar livre, de apanhar com o vento na cara e de ouvir as "parvoíces" da Rádio Comercial que fazem com que sorria e por várias vezes esse sorriso coincide com a passagem de outro ciclista em direcção contrária, que me devolve o sorriso. O resultado é que chego sempre ao meu destino cheia de energia, o que não acontece quando vou enlatada no comboio.

Por isso, neste estado de apaixonamento pela chuva (só previam chuva para a tarde), saí sem hesitar com a minha linda Gazelle.

Na hora de regressar, a previsão estava certa e chovia, não a "potes" mas, os chamados chuviscos. Após esta primeira avaliação decidi não vestir as calças para chuva, para além de serem muito feias, serem médio/baixo impermeáveis, ainda me fazem suar. Olhei para o selim e pensei que tinha  mesmo de arranjar uma protecção... Lá me sentei e como foi impossível retirar totalmente a água do selim, senti aquele desconfortozinho... mas, segui. O pior estava para vir. Passados uns metros já a minha visão estava bastante alterada pois os meus óculos estavam cheias de gotas de água (nesta altura pensei que era mesmo fixe ter umas escovas, do tipo limpa-para-brisas mas, numa versão de óculos) e para piorar a situação a intensidade da chuva aumentou o que me obrigou a colocar o capuz do casaco. Tenho então, de lidar com a pouca visibilidade dos óculos que entretanto também começam a escorregar pelo nariz, com o capuz que me faz sentir como um "burro com palas" e as calças de ganga que começam  a ficar demasiado molhadas. Decido então, vestir as ditas calças impermeáveis. Tal como previsto, começo a transpirar e para além de os óculos estarem cheios de água começam também a embaciar. Resolvo tirá-los, fico espantada com a pouca melhoria que tenho na visibilidade as minhas 2.5 dioptrias em cada olho, fazem sentir-me uma pessoa que vê mesmo mal... Contínuo a pedalar sem os óculos à espera que melhore (?) quando passo por umas senhoras (só sei o género pelo tom de voz, porque estava a ver mesmo mal) e oiço elas comentarem: "Ele, há malucos para tudo".

Não perco muito tempo a pensar naquilo, até porque as calças são mesmo feias e a humidade não se dá lá muito bem com o meu cabelo... Sigo em direcção ao meu destino, quando me deparo com uma enchente de pessoas junto ao Pavilhão Atlântico, agora chamado de Meo Arena. Centenas de cidadãos estão ali à chuva e ao frio a cantar as canções que irão ouvir no Concerto da Lady Gaga (dali a pelo menos 4 h) e penso com os meus botões: "Ele, há malucos para tudo".

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Rumo ao Alqueva: entre cafés e uma surpresa

Gostamos de parar para café. É pelo hábito do café, mas, quase inconscientemente, é também uma forma observar e sentir o local. Ver e ouvir as pessoas que ali fazem rotina apura-nos a sensibilidade sobre os traços locais. Na paragem para café constrói-se a memória futura do sítio, através dos pequenos pormenores que se observa, ouve e cheira. Pequenas conversas com curiosos por vezes abrem abrem um mundo de história. Parar para café é uma forma de, em 5 minutos, perscrutar o passado e a envolvência do sítio por onde se passa.

Não sei explicar bem, mas estas impressões recolhidas na paragem para café parecem ser mais apuradas quando se vai de bicicleta. Acho que por um lado tem a ver com transição mais directa do veículo em que nos deslocamos para o local onde vamos parar. Ao chegar de bicicleta, já estamos a ouvir, cheirar e ver o local, sem obstáculos. A possibilidade de estacionar o veículo mesmo em frente ao local onde vamos parar (como acontece com os carros, mas só nos filmes) também ajuda a essa transição mais suave. A redoma do automóvel coloca uma barreira a estas sensações iniciais, e em muitos locais comporta a ansiedade da procura de estacionamento. Por estes motivos, diria que a bicicleta enaltece ainda mais a experiência do parar para café.

Depois de levantarmos o acampamento, pedalámos 5 km até Oriola, uma simpática aldeia na margem da barragem do Alvito. Fomos ver o local, fazer compras, e beber café. Parámos num supermercado daqueles que têm um pouco de tudo, desde objetos de decoração para a casa que parecem ter estado a decorar o supermercado ao longo da última era, até um balcão e mesas para café à saída. O senhor do estabelecimento fazia tudo, entre a caixa do supermercado, serviço no balcão dos queijos e enchidos, e atendimento no café. Era uma manhã de Sábado de Verão e havia clientela para os vários serviços. Enquanto esperávamos, aproveitámos para perscrutar o local. O Vasco, lá fora no Croozer, aproveitava para pôr o sono em dia. Apesar de não termos visibilidade direta para as bicicletas, a presença constante dos locais deu-nos confiança suficiente para o deixar lá fora.

Depois pusémo-nos a caminho de Portel, a 14 km, onde iríamos almoçar. É mais uma vila alentejana bonita, onde demos uma volta, visitámos o castelo, o museu local e parámos para mais um café e bolos locais.

Museu da Freguesia - Portel
Castelo de Portel

Faltavam mais 20 km até à Amieira, uma aldeia encostada ao Alqueva que por acaso também é o principal ponto de turismo da grande albufeira. Não ia ser uma viagem completamente tranquila, tendo em conta o tempo que tínhamos para encontrar um local para dormir antes do anoitecer. Percorrê-mo-lo de uma vez. Fazer este tipo de distância a uma média de 15 km/h nem sempre era fácil por causa da possibilidade dos miúdos se aborrecerem ou terem outras necessidades. Mas tudo se tornava mais simples quando eles adormeciam, o que normalmente é trigo limpo quando são embalados pelo Croozer. Eles adormecerem em viagem é um dois em um: uma viagem tranquila para os pais, e uma sesta repousante para os filhos.


Estrada R384- à sombra a descansar um pouco da subida...

Chegados à Amieira, parámos para comer e inquirir os locais acerca de sítios para pernoitar. Fomos tratados como reis pelo dono do estabelecimento, apesar de não ter propriamente coisas para lanchar, apenas "petiscos". Enquanto o Manuel e o Vasco comiam avidamente um prato de caracóis, um senhor da terra de ar muito humilde meteu conversa e acabou por nos ir contando uma versão muito interessante sobre os traços da Amieira, o seu povo, e o impacte que teve a barragem do Alqueva. Ao perguntar-lhe por um caminho em particular, explicou-me que poderia ter cercas pelo caminho a tapá-lo, mas que ninguém levava a mal se as abrirmos para passar. Soubéssemos isto antes, e talvez tivéssemos mesmo atravessado aquelas cercas da Ribeira de S. Brissos!

Disseram-nos que lá para baixo, junto à água, por vezes havia malta a acampar, e fomos a isso. Estávamos cansados e era perto do anoitecer. A busca de um local para ficar foi um pouco stressante. Demos algumas voltas à procura, e a partir de uma ponte vimos um local que parecia interessante numa das línguas de terra que invadem a água. Quando fomos para essa zona, ao longo de caminhos de terra em más condições, estava difícil de encontrar o local desejado, e os outros não pareciam tão apelativos. Os miúdos estavam muito cansados e queriam parar, até que decidimos deixá-los ir tomar banho no rio enquanto eu prossegui a procura. Finalmente encontrei e, apesar da fadiga, decidimos mudar de local. O sítio era perfeito, e só nos apercebemos completamente disso depois de instalados. Uma praia com pouca inclinação, bom piso para a tenda e uma visão muito bonita. Era tão bom, mas ao mesmo tempo muito diferente, do local da noite anterior na barragem do Alvito. E desta vez foi o nosso hotel de 6 estrelas tinha mesmo estacionamento à porta, porque foi fácil levar as bicicletas até à margem. Como no dia anterior, o Manuel e o Vasco brincavam junto à água ao mesmo tempo que eu e a Filipa preparávamos as coisas.

Na albufeira do Alqueva, próximo da Amieira

Depois do jantar, mesmo antes de ir para a tenda, tivemos uma visita surpreendente. O terreno para além da área onde a água chega é totalmente preenchido por uma vegetação loura e suave que dá quase pela cintura, e que o luar iluminava ligeiramente. Enquanto conversava com o Manuel, a Filipa diz-me assustada que havia uns olhos no meio da vegetação. Primeiro olhei e pensei que fosse impressão dela porque não vi nada, mas passado um pouco vejo mesmo algo a mexer entre a vegetação, por trás das bicicletas. Era um corpo delgado com quatro patas... "É um gato!" A Filipa e o seu medo compulsivo de animais correram com o Vasco para dentro da tenda. "Saiam daí!!" "Mas é só um gato!" Observei melhor... O focinho que tinha uns olhos brilhantes a olhar para nós, parecia afinal ter a forma de outro animal. "Afinal é um cão..." Naquele instante, com o Manuel ao meu lado, meio entusiasmado e meio indeciso em alinhar pelo o ar despreocupado do pai ou o medo da mãe, tive um certo receio. O que faria ali um cão? Atrás dele virá uma matilha? Apontei-lhe a lanterna. Tinha uma cauda gigante e peluda e orelhas grandes. Era uma raposa!

Sempre ouvi dizer que as raposas eram matreiras e atrevidas. Esta aproximava-se de nós aos esses, entre a folhagem, até que chegou muito perto de nós. O Manuel eu estávamos excitados. Depois desapareceu com os nossos movimentos. Fomos para a tenda. Vestimos os pijamas, e voltei a abrir a porta da tenda. Suspeitava que ela voltasse, e tinha mesmo voltado. Ficámos a olhar. Procurava comida. Consegui tirar-lhe fotografias.
A raposa

Aos 3 anos o Manuel viu pela primeira vez uma raposa ao vivo... ao mesmo tempo que eu, aos 32. Olhando para trás vejo este momento como um privilégio para ele, proporcionado por esta viagem maravilhosa. Quanto à Filipa, é surpreendente a coragem que teve para a fazer, acampando em sítios como este, tendo em conta o seu pequeno trauma com animais. Para ela foi um desafio superado. As bicicletas, do outro lado da tenda, esperavam para nos levar no dia seguinte.

O dia seguinte foi para descansar das emoções da noite anterior, usufruir das paisagens, da albufeira e também da comida da zona da Amieira. Soube mesmo bem!

Paragem para café. Manuel aproveita para ver televisão, com menina local
Construindo a "piscina"


Passeio de barco na albufeira do Alqueva

Restaurante "O Aficionado", na Amieira (bom!)

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sábado, 21 de setembro de 2013

Hotéis de 6 estrelas

Se imaginasse o que era ficar num hotel de 6 estrelas, pensaria talvez num quarto em frente à praia, com uma paisagem fabulosa! De preferência o hotel seria só para nós, um hotel privado, e já agora num local privado também, sem casas ou pessoas à volta. Ok, poderia haver animais (gosto de sentir a natureza por perto), e os ruídos da natureza ouviam-se dentro do quarto de noite, incluindo as ondas da água, as corujas, o vento. Ahh, e claro que queria estacionamento privado para o meu veículo mesmo à porta do quarto.  Para os nossos filhos, imaginaria um hotel com muito espaço, onde pudessem brincar à vontade, por exemplo ter uma varanda do quarto que desse diretamente para fora, e pudessem brincar na rua sem medo que fossem atropeladas ou de outros perigos - como a praia estava mesmo em frente, teríamos só que ter algum cuidado para não irem sozinhos para a água.

Foi mais ou menos um hotel desses que tivemos nos dois locais seguintes onde passámos, primeiro a Barragem do Alvito e depois a Barragem do Alqueva, simplesmente acampando à beira do rio, isoladamente do Mundo.

Como o Alentejo é habitualmente muito quente no Verão, tínhamos planeado pedalar com a alvorada e ao final da tarde. Tivemos sorte porque nesta semana o Alentejo não estava tão quente como isso, e acabámos por pedalar a qualquer hora. Isto facilitou muito a logística, porque começar a pedalar com a alvorada não era nada fácil. Arrumar a bagagem toda, incluindo todos os acessórios dos miúdos, ao mesmo tempo que temos que nos preocupar com o pequeno-almoço deles, pode levar algum tempo. Claro que podíamos ter apurado a técnica, mas as condições climatéricas desta vez não o exigiu.

Pré-pequeno-almoço do Manuel e Vasco no Varandas do Montado, Alcáçovas

Saímos de Alcáçovas pelas 11 e meia, após um pequeno almoço relaxado no café mais próximo e mais uns mergulhos na piscina. A meio caminho para a Barragem do Alvito havia Viana do Alentejo, onde íamos parar para almoçar, visitar o castelo e passear um pouco. Foram 18 km e não parámos até lá. Àquela hora estava calor e chegámos com sede.

Em Viana do Alentejo
Almoçámos num restaurante muito barato e bom (Churrasqueira  3 Bicas), onde comemos tanto que a perspetiva de continuar a pedalar de tarde parecia complicada.
Água, muita água!
Viana do Alentejo é uma vila bonita, com um castelo muito bem tratado e boa informação para turistas. Éramos as únicas pessoas por lá, e o senhor que toma conta daquilo descreveu-nos os principais pontos de interesse e foi abrir a porta da igreja para podermos vê-la. Depois do pequeno passeio a perspetiva de pedalar de barriga muito cheia já não era tão horrível e continuámos rumo à barragem.

No castelo de Viana do Alentejo
As bicicletas portavam-se bem com toda a bagagem. A minha e a da Filipa são bicicletas de montanha dos anos 90, ainda com algum equipamento original. O quadro destas bicicletas é particularmente bom e continua a ser bastante utilizado. É em aço, muito durável, mais confortável que o alumínio, sem tanta necessidade de amortecedores que pesam e podem ser uma preocupação adicional. Mas obviamente, não se vai tão descansado como com uma bicicleta mais nova e com garantias de qualidade... Sendo que fui eu, não exatamente um profissional, quem instalou a maioria do equipamento de gama não elevada.

Bicicleta carregadinha (o material aguentaria?)
Tinha delineado um percurso junto à barragem para irmos ver o local e, se gostássemos, acampar ali. Fiquei espantado quando, mais uma vez, o caminho estava bloqueado por um portão. Era propriedade privada, apesar de os mapas online o indicarem como um percurso possível. Depois da má experiência na Ribeira de S. Brissos, senti-me definitivamente revoltado por não se poder aceder livremente a um local interessante como é a Barragem do Alvito. Olhei melhor para a placa no muro ao lado do portão e vi que além do texto "Propriedade privada - entrada reservada a veículos com autorização do proprietário", havia um número de telefone escrito a caneta. Telefonei decidido a entrar. Atendeu uma senhora, que perguntou se íamos pernoitar ali, ao que respondi que estávamos a pensar nisso, e indicou-nos que poderíamos entrar por outro portão mais adiante. Interessante, esta forma informal de se poder visitar as coisas. Ficamos agradecidos aos proprietários, que deixam pessoas usufruir daquele local.

A telefonar ao proprietário pedindo autorização para entrar (Barragem do Alvito)
Já dentro da propriedade
O caminho de terra levou-nos pelo meio de um olival até outra cancela que apenas dizia "Feche" e depois finalmente à barragem. A Barragem do Alvito aparece como um oasis e projeta a beleza do Alentejo com a mistura do azul com o amarelo torrado do terreno e o verde escuro das oliveiras e azinheiras. Ao contrário de outras barragens (como no Alqueva, Zêzere ou Douro), o terreno é suficientemente plano para se conseguir ver o horizonte além das margens da água, dando essa impressão de oásis.

O caminho para o local em que tinha imaginado pernoitar estava invadido de vacas numa passagem junto à água. A Filipa, que tem medo de bichos em geral, recusou-se a atravessar a manada. Tentei ponderar se seria seguro fazê-lo, e tendo em conta que nunca tinha ouvido falar numa vaca a fazer mal a uma pessoa - exceto um caso na Índia que correu Mundo - achei que sim, mas a Filipa foi inflexível e ficámos por ali. O local tinha um aspeto paradisiaco e era adequado para montar tenda. Decidimos ficar.

Lá ao fundo, as vacas a "tapar" o caminho. "Nem pensar passar por ali!" dizia a Filipa

A sondar o terreno para o banho. As ervas não faziam mal
O Manuel e o Vasco foram direitinhos para a água. Eu tive que ir buscar a bagagem às bicicletas, que estavam relativamente longe porque havia uma vegetação com picos no chão e não quis arriscar ter furos (este "hotel" ainda não era dos com estacionamento privativo ao lado do quarto).

Bicicleta afastada dos picos
Montámos a tenda enquanto os miúdos brincavam por ali. Corriam e arranjavam brincadeiras com paus e pedras que apanhavam ou outros objetos do campismo. A sensação de liberdade era tremenda. Depois de um banho no rio fizemos o jantar e comemos. Como vínhamos de bicicleta, tivemos que poupar o mais possível na tralha, e os apetrechos para acampar estavam reduzidos ao mínimo, sem cadeiras, sem mesas, apenas um fogareiro pequeno... Mas demo-nos bem. Basta um prato e talheres para cada um, e tá feito. Até tem a vantagem de não sujar toalha e mesa, e acreditem que o Vasco trata de o fazer em qualquer local onde coma. A simplicidade tem vantagens.

A jantar

Preparados para dormir, a Lua ao fundo sobre a Barragem do Alvito
Já não acampávamos desde o Verão passado e não sabíamos como eles iam passar a noite. Correu sempre bem, talvez por gostarem de dormir no mesmo espaço que nós, o que normalmente não acontece. O Manuel adora acampar e nunca teve problemas em dormir em tendas. O Vasco, exausto, aninhava-se no seu canto. Quanto ao conforto, tínhamos comprado daqueles colchões individuais que se enchem por si próprios e que pesam e ocupam suficientemente pouco espaço, que cumpriram a sua missão.

Acordar naquele local foi esplendoroso. A paisagem matinal era linda e, isolados do mundo, parecia que estávamos numa terra distante paradisíaca. Só para nós.  Sim, gostamos muito de pessoas mas, vivendo na cidade, por vezes sabe bem o isolamento. As vacas outra vez por perto faziam-nos companhia.

Primeira visão do dia

Desmontámos as coisas e montei a bagagem. Partimos rumo ao Alqueva.


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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Incertezas ou certezas?


Mês de voltar a colocar os pés na terra, de voltar ao mundo real, de fazer balanços e seguir em frente...
Começam os primeiros "estalos", o "acorda para a vida", que o meu filhote me diz... Sou obrigada a fazer uma análise do que deveria ter feito e do que está por fazer... e não gosto do que vejo, não gosto de me ver assim. Exteriormente, fiquei aquém de vários objectivos, se os nomeasse seria uma lista mesmo muito extensa mas, interiormente diria tal como o meu filhote quando cai e se levanta rapidamente: "eu estou bem"! E agora? Agora, é manter as certezas no coração...