sexta-feira, 22 de março de 2013

Activismo



Todos somos muitas coisas, boas e más. Eu por exemplo, entre outras coisas, sou mulher, mãe de dois filhos, colaboro com a Cenas a Pedal e estudo Psicologia no ISPA

Colaborar com a Cenas a Pedal e estudar no ISPA, tem-me permitido ver o mundo com outros óculos, diria que com os óculos reais (antigamente utilizava uns cor-de-rosa). Por um lado, assumir o controlo quase total do meu trabalho, diariamente ter de me auto-motivar, aceitar que o "erro" faz parte de todo o processo, aceitar que não sou perfeita, que tenho tantas limitações que precisam de ser trabalhadas por mim, aprender a confiar no outro, simplesmente porque o mundo também tem pessoas confiáveis. E por  outro lado, tem sido avassalador, trabalhar e estudar em áreas que estam relacionadas com a mudança de comportamentos, desmitificação de crenças e que me têm forçado a pôr em causa a minha essência, que me têm vindo a tornar numa tímida activista, em que a minha causa é construir um mundo melhor. Um mundo onde todos se respeitam e aceitam as diferenças, onde conseguem ir para lá da primeira impressão e ver o contexto, o cenário todo. E seria tão mais simples...

Esta introdução está relacionada com a experiência que vivi hoje, pedalava calmamente e sem entrar em pormenores, um autocarro passou por mim, fazendo-me uma tangente. O resultado poderia ter sido dramático. O que quero destacar é que senti uma força enorme, uma vontade de lutar, de não me acomodar e pedalei até ao autocarro (entretanto estava parado na paragem a recolher passageiros), bati no vidro e falei com o condutor:
- Você viu a tangente que me fez?- perguntei.
- Você não pode circular no meio da estrada, tem de usar capacete e tem de ter seguro. - respondeu o motorista.
- Posso. Está enganado, tem de se informar.- respondi eu.
E o motorista fechou o vidro, virou-me a cara e não me deixou argumentar. E a verdade é que o motorista está mesmo mal informado, o código da estrada permite-me circular na estrada, não me obriga a ter capacete nem seguro. E mesmo que fosse o caso, a atitude do motorista que pôs em causa a minha segurança e a minha integridade física e psicológica, não foi correcta, não conseguiu ver que há espaço para todos, não respeitou a minha individualidade e é esta individualidade que tenho vindo a construir lentamente, com a ajuda dos meus colegas da Cenas a Pedal e do ISPA, da minha família e amigos e com a ajuda de todos os tombos que tenho dado, graças a ela a história do motorista da Carris não vai ficar por aqui, vou apresentar queixa.

O processo de mudança é lento, como tantos outros, já viram as quedas que um bebé dá antes de conseguir dar os primeiros passos? Ou as tentativas que o meu filhote teve de fazer antes de conseguir pedalar?